Um conto de Natal

Coçou o queixo enquanto pensava em sua próxima jogada, o tabuleiro que ganhara de natal ainda conservava o cheiro de novo, e também ansiava por andar na bicicleta nova, jogar futebol e mergulhar com o snorkel recém comprado. Tudo seria um pouco melhor se tivesse alguém pra brincar.

– Mãe! Por que papai Noel não me trouxe também um amigo?

A mãe terminou de se arrumar e passou rapidamente por ele e desceu as escadas.

Desistiu de jogar xadrez contra si mesmo, até porque também não sabia os movimentos.

Pegou sua bola de futebol e foi brincar no campinho atrás da casa, era lá que o pai jogava futebol com seus amigos quando ainda era vivo. Lembrou-se com carinho daqueles momentos e de como sua mãe tinha mudado após o infarto do marido. Ela, que já era uma trabalhadora e independente mulher americana, se viu desamparada emocionalmente, passou por várias crises até se estabilizar em um estado de ausência completa de sentimentos.

Entediou-se de chutar a bola e ter que correr para pegar a todo momento. Sentou perto da trave e começou a chorar. Chorou até que ouviu uns passos e, quando olhou, viu um menino que devia ter uns onze ou doze anos, era mais velho, veio confiante e lhe entregou a bola, depois correu pro gol.
Jogaram até cansar.

Suados, lancharam e foram tomar banho de piscina, mesmo com apenas um aparelho de mergulho, revezavam-no na brincadeira.

O Pedro era demais, ele já sabia fazer contas de divisão, subir em árvore e não tinha medo do escuro. Mais tarde foram para o quarto e lá ele o ensinou a jogar xadrez.

– Pedro, é verdade que não dá pra contar até o infinito?

Sua mãe, que ele não tinha visto entrar, arrumava freneticamente a bagunça das brincadeiras.

– Larga de ser idiota, Túlio! Quem é Pedro?

 

lucastamoios

 

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